Estudo Reafirma Pertencimento da População ao Ceará em Área de Litígio com o Piauí.



Arena de Ideias - Marcos Sampaio / Ipu -CE 25 DE JUNHO DE 2025

Um dos mais emblemáticos litígios territoriais do Brasil ganha novos contornos a partir de uma extensa pesquisa socioeconômica conduzida pelo Comitê de Estudos de Limites e Divisas Territoriais do Ceará (CELDITEC), com apoio técnico do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). O estudo, realizado em 2023, lança luz sobre a percepção da população residente na área disputada entre os estados do Ceará e do Piauí — uma região que abrange cerca de 3 mil km² e treze municípios cearenses.

Mais do que uma disputa por traços no mapa, o relatório evidencia que o território em questão é tecido por laços históricos, afetivos e culturais profundamente enraizados no modo de vida de seus habitantes. Nesse contexto, a pesquisa reafirma: o sentimento de pertencimento da maioria dos moradores é, inequivocamente, cearense.

Identidade que Transcende a Geografia

A partir da escuta de 417 domicílios, distribuídos em 84 localidades, o estudo revela que 87,5% da população entrevistada deseja permanecer sob a jurisdição do Ceará, enquanto apenas 12,5% manifestaram preferência pelo Piauí. Dentre os fatores que sustentam essa escolha, destacam-se a identidade cultural, a qualidade dos serviços públicos oferecidos e as raízes familiares profundamente fincadas no território cearense.

Esse apego não é apenas simbólico. Ele se manifesta em dados objetivos: 97,2% dos moradores possuem documentos de propriedade emitidos pelo Estado do Ceará; 96,9% recorrem a delegacias cearenses em casos de ocorrências policiais; e 92,7% dos estudantes da região frequentam escolas administradas por entes públicos do Ceará.

Serviços Públicos Como Pilar de Pertencimento

A qualidade e presença dos serviços públicos foram aspectos centrais na avaliação. A pesquisa identificou que a ampla maioria dos residentes é atendida por escolas, unidades de saúde, sistemas de abastecimento de água e energia elétrica vinculados ao Ceará. A Enel, concessionária de energia cearense, abastece 95,9% dos domicílios da região. Da mesma forma, 96,6% dos entrevistados recebem água de sistemas cearenses.

O mesmo padrão se repete na área da saúde: 76% dos moradores buscam atendimento em equipamentos de saúde do Ceará, contra apenas 11% que se dirigem ao Piauí.

Reconhecimento do Litígio, Mas Preferência Clara

Outro dado relevante é o alto grau de conscientização sobre o litígio territorial: 95% da população afirma ter conhecimento da disputa, sendo a maioria informada por meio de parentes, amigos e rádios locais. Além disso, 92,8% dos entrevistados sabem, com precisão, onde se localiza a divisa entre os dois estados.

Esse conhecimento territorial é fundamental para a construção da cidadania e da identidade. Como aponta o geógrafo Milton Santos, citado no relatório, o território é mais do que um espaço físico: é o chão onde se constroem afetos, histórias e pertencimento.

Caminhos para uma Solução Justa

O estudo defende que, para além de critérios cartográficos e jurídicos, a resolução do conflito deve considerar a soberania da população que habita a região. O sentimento de pertencimento, a funcionalidade dos serviços públicos e os vínculos históricos não podem ser negligenciados em uma decisão que afeta diretamente o futuro de milhares de brasileiros.

Além disso, o relatório inclui um minucioso mapeamento de equipamentos públicos e infraestrutura regional — de escolas e postos de saúde a estradas, torres eólicas, assentamentos, terras indígenas e quilombolas —, que evidenciam a presença histórica e administrativa do Ceará na área de litígio.

Conclusão

A pesquisa socioeconômica realizada pelo CELDITEC é mais do que uma coleta de dados: é a escuta sensível de uma população que reivindica, com clareza e dignidade, o direito de pertencer ao lugar que historicamente reconhece como seu. A decisão judicial que definirá os limites entre Ceará e Piauí deve, portanto, considerar não apenas as linhas do mapa, mas as vozes que ecoam das serras, vales e comunidades da Ibiapaba e do Sertão dos Crateús.

Postar um comentário

0 Comentários