Archimedes Memória: Trajetória de um Mestre da Arquitetura Brasileira


Arena de Ideias - Marcos Sampaio /Ipu-CE


Archimedes Memória (Ipu, Ceará, 1893 – Rio de Janeiro,  setembro de 1960) destacou-se como um dos mais notáveis arquitetos brasileiros da primeira metade do século XX, tendo deixado importante legado na paisagem urbana do Rio de Janeiro e nos marcos institucionais do ensino de arquitetura no Brasil.

Natural da cidade de Ipu, no interior cearense, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1911 com o intuito inicial de estudar desenho na então prestigiada Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Seu talento e sensibilidade estética logo o conduziram à arquitetura, curso no qual obteve expressivo reconhecimento acadêmico, conquistando diversas distinções ao longo de sua formação.

Em 1918, ingressou no "Escritório Técnico Heitor de Mello", importante núcleo projetual da capital federal. Com o falecimento precoce de Heitor de Mello, em 1920, Archimedes Memória assumiu a direção do escritório, transformando-o no mais ativo e relevante do Rio de Janeiro durante o período de 1920 a 1935. A partir dali, consolidou-se como um dos principais nomes da arquitetura eclética carioca, autor de projetos que marcaram profundamente o cenário urbano da época.

Sua atuação no magistério foi igualmente notável. Em 1920, passou a integrar o corpo docente da Escola Nacional de Belas Artes, tornando-se, posteriormente, professor catedrático de "Grandes Composições de Arquitetura" na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (atual FAU/UFRJ), da qual viria também a ser diretor. Sua contribuição ao ensino da arquitetura formou gerações de profissionais e reafirmou seu prestígio intelectual no meio acadêmico.

Entre suas obras mais expressivas estão o plano urbanístico da Exposição Internacional do Centenário da Independência, realizada em 1922, no Calabouço; o Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara Municipal do Rio de Janeiro; a Igreja de Santa Terezinha, no Túnel Novo; o Hipódromo da Gávea; a sede do clube Botafogo de Futebol e Regatas; o Palácio das Indústrias (hoje Museu Histórico Nacional); o Cassino do Passeio Público; e o altar-mor da Igreja da Candelária. Sua obra mais imponente, todavia, é o **Palácio Tiradentes**, concebido em parceria com o arquiteto Francisco Cuchet — edifício-sede da antiga Câmara dos Deputados, um marco da arquitetura eclética nacional.

Em 1936, Archimedes foi vencedor do concurso nacional para a construção do edifício-sede do recém-criado Ministério da Educação e Saúde Pública. Apesar de ter apresentado o projeto laureado, o governo federal optou por entregar a obra a Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, numa decisão que inauguraria o movimento da arquitetura moderna no Brasil e alteraria profundamente os rumos da disciplina no país.

No âmbito regional, sua contribuição à cidade natal é igualmente significativa: foi o autor da planta urbanística de Ipu e da planta original da Igreja Matriz. Contudo, entristecido ao saber que alterações haviam sido realizadas por leigos em seu projeto arquitetônico, nunca mais retornou à terra natal.

Archimedes Memória deixou como legado não apenas edificações de grande porte e relevância simbólica, mas também uma visão de arquitetura integrada à educação, à cultura e ao espaço público, firmando-se como figura central da história arquitetônica brasileira do século XX.
-

Postar um comentário

0 Comentários